Os Dias em Auschwitz - Capítulo da obra "Por Amor e Fé, Os dias em Auschwitz"

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HISTÓRIA COM FICÇÃO

Jamila Mafra

10/18/202513 min read

Antes de ser presa e levada para Auschwitz, havia conseguido um emprego em uma floricultura em Berlim. Foi exigido de mim que eu recebesse os clientes com a saudação “Heil Hitler”, mas me recusei a fazer isso. Depois de darem o prazo de dez dias para que eu mudasse de ideia e trabalhar da maneira que me pediram, fui presa. Naquele momento o Vagner já havia sido preso por se negar a servir ao exército.

No início me enviaram a uma fábrica de munição, mas eu também não podia fazer aquilo. Eu não poderia trabalhar para a guerra. Pessoas estavam sendo mortas com aquelas balas, com aquelas armas. Eu não participaria de modo algum daquele genocídio, ainda que tirassem a minha vida.

Assim me enviaram para Auschwitz, depois de me recusar várias vezes a servir aquele governo ditador e cruel, não muito diferente da maioria dos governos da Terra, que enganam, corrompem e destroem.

Dentro daquele trem lotado e abafado, os olhares já eram de desespero. O medo do porvir, do desconhecido, abalava nossos corações. Lutei com todas as forças para manter minha fé e equilíbrio no instante em que fecharam as portas daqueles vagões. Não foi nada fácil. Afinal, eu também sou humana, com temores e fraquezas, como qualquer outra pessoa nessa Terra.

Soubemos desde logo que éramos prisioneiros. Não esperamos um bom tratamento, tampouco imaginamos os horrores que veríamos a partir daquele momento.

Todos os recém-chegados a Auschwitz passavam por uma minuciosa triagem. Soldados das SS definiam quem de nós estaria apto ao trabalho, e quem de nós morreria de imediato.

Aqueles não habilitados aos trabalhos forçados eram enviados diretamente para as câmaras de gás, onde eram assassinados de modo covarde. As câmaras pareciam banheiros com chuveiros, tudo feito para enganar as vítimas, que inocentemente acreditavam que estavam a caminho de um simples banho.

Os objetos das vítimas das câmaras de gás eram todos confiscados, em seguida encaminhados para o depósito Canadá, e posteriormente enviados à Alemanha. A palavra “Canadá” significava riqueza para nós, prisioneiros.

Logo que cheguei a Auschwitz recebi meu pijama com o triângulo roxo à esquerda do peito. Muitas vezes eu prendia ou costurava o triângulo na minha própria roupa. Esse era símbolo pelo qual nós, as Testemunhas de Jeová, éramos identificados no campo.

Muitos culpam a religião e até mesmo Deus pelas maldades cometidas pelas mãos humanas, mas as maldades cometidas pelo homem pertencem somente ao homem. Ideologias e ideias são apenas palavras, cada indivíduo é que decide se irá ou não as obedecer.

Todos aqueles selecionados para o trabalho forçado recebiam um registro e uma tatuagem no braço esquerdo com um número, que servia como um código de identificação.

Apenas as prisioneiras judias tinham a cabeça raspada. Eu era alemã ariana considerada apenas uma rebelde, culpada de subversão. E tudo aquilo só porque me recusei por várias vezes a fazer a saudação para Hitler e a trabalhar para o Estado.

No campo de concentração fiz amizade com a Sabine, uma judia fervorosa, mas com o coração destroçado por ter visto toda a sua família morrer, e também com Helene, uma ariana ateia que havia sido presa por subversão. Ela lutou contra o nazismo e teve seu esconderijo descoberto.

Fomos escolhidas para participar de uma pequena banda, formada para tocar músicas clássicas para os oficiais nazistas do campo que precisavam se distrair ao fim do dia. Prisioneiros com talentos eram usados para servirem aos interesses dos nazistas dentro da prisão.

Eu tocava muito bem música clássica ao piano. Passávamos o dia todo dentro de uma sala, uma espécie de galpão mal-acabado, ensaiando as músicas e apresentações. Nossa regente era pressionada a nos fazer tocar cada vez melhor para que agradássemos aos comandantes e demais oficiais. Se errássemos poderíamos até morrer. Enquanto fomos úteis permanecemos vivas.

Ainda me lembro da primeira vez em que vi a Sabine. Foi durante a triagem, momento em que ela teve sua cabeça raspada.

Tudo lá era terrível e o fim de tarde estava cinza. Tudo era triste e tenebroso naquele ambiente de escravidão e tortura. Em Auschwitz pude sentir o cheiro da fumaça de corpos carbonizados que dominava o ar.

Uma rápida vertigem acometeu-me de maneira súbita, a sensação de que o lugar transmitia um pesar de dor. Vi os pavilhões por dentro e constatei que aquilo era uma grande loucura de extermínio em massa.

Nem mesmo a angústia, nem mesmo toda a humilhação que recaíra sobre nós, foram capazes de nos desanimar. Nada abalou a nossa fé, a nossa crença no amor de Jeová.

Em minha mente orei todos os dias para agradecer a Deus por Ele estar sempre comigo. Eu sentia a solidão que os males humanos traziam ao coração, eu sentia saudade da minha família, eu sentia saudade do homem que eu amava, porém sentia também a paz divina que vem só por meio da perseverança por trilhar o caminho mais difícil e mais compensador no final.

A cada instante eu me lembrava das palavras do meu irmão Adam em sua carta de despedida. Antes de ser executado pelos nazistas, ele havia partido com a certeza de que receberia a vida eterna. Não temeu a morte, não temeu as perdas, enfrentou o pior até seu último suspiro.

E tudo o que eu tinha que fazer era suportar os dias em Auschwitz, que eram amargos e cinzas mesmo quando o sol brilhava.

Mas nós, as Testemunhas de Jeová alemãs e arianas, tínhamos um privilégio durante a Segunda Guerra Mundial. Diferentemente dos outros prisioneiros, nós poderíamos ser libertados a qualquer instante. Para isso bastaria que negássemos nossa fé, nossas crenças e a própria existência de Deus.

Sim, era desse modo que tudo acontecia. Nos chamavam para uma conversa e faziam a oferta. Colocavam diante de nós um papel, uma declaração que tínhamos que assinar. Naquele pedaço de papel estava escrito que renunciávamos e negávamos nossas crenças em troca da liberdade.

Por medo da morte e da dor alguns assinaram. O Terceiro Reich tinha prazer em nos humilhar, tinha prazer em ver o medo e o desespero estampado nos olhos de muitos, o medo da solidão, o medo da distância, o medo da morte. Eles queriam nos fazer perceber que estavam rebaixando nosso Deus. Era como se cuspissem na nossa cara e gritassem que eles é que tinham todo o poder da vida e da morte. Sempre que alguém assinava a declaração eles se sentiam vitoriosos.

Certo dia a regente Magdalene se irritou, nos deixou sozinhas naquele galpão e trancou-se em seu quartinho. As meninas não conseguiram acertar as notas. Era o medo de que logo seríamos exterminadas. Helene virou-se em minha direção e perguntou com olhos arregalados e lacrimejantes:

— Mia, se você assinasse aquele papel, acredita que seu Deus te perdoaria?

Percebi a dor no semblante dela e respondi com segurança:

— Tenho certeza que sim, Ele me perdoaria. Mas o problema é que eu não me perdoaria. Eu seria livre fisicamente, mas minha mente estaria aprisionada pela culpa para o resto da minha existência.

— Não te parece cruel existir um Deus que pode tudo, mas que não interfere pra livrar seus filhos de toda essa maldade que estamos vendo ao nosso redor? — Ela demonstrou revolta contra tudo que estávamos passando.

— Cruel é a atitude humana. Você está certa quando diz que Deus pode tudo, no entanto, mesmo podendo, Ele não vai interferir, simplesmente porque isso seria injusto. Helene, nós, seres humanos, precisamos ser responsabilizados pelos nossos atos, sejam eles bons ou maus. Precisamos arcar com as consequências dos atos e escolhas que fazemos. Ser obrigado a fazer ou a deixar de fazer algo é uma ditadura, como essa que estamos enfrentando agora, e Deus não é um ditador, Ele não comanda as nossas vidas, apenas nos mostra o caminho, o seguimos apenas se queremos. Se Ele comandasse nosso destino não haveria livre arbítrio.

— Deus tem muitos advogados que justificam Sua omissão aqui na Terra.

— Deus não precisa de advogados.

— Não é o que parece, Mia.

— Se tem alguém aqui tirando nossa liberdade de escolha, esse alguém é um governante ditador chamado Adolf, não é Deus. Olha só pra mim! De certa forma, eu escolhi estar aqui agora. Eu poderia ter feito as saudações a Hitler, eu poderia ter aceito trabalhar naquela fábrica de armamento bélico, eu poderia ter assinado aquele papel negando a minha crença, e agora eu estaria livre, vivendo bem. No entanto, eu escolhi não fazer nada dessas coisas e aqui estou. Mas você não acredita em Deus e está aqui também. Não é mesmo? — eu disse.

— Sim, estou aqui, assim como você e tantas outras vítimas.

— Sabe por quê?

— Por quê? — Helene olhava fixamente para o meu rosto.

— Porque defendemos a nossa liberdade de crer ou não crer, nossa liberdade de não concordar com o que eles estão fazendo com milhões de pessoas inocentes. É por isso que nós estamos aqui presas. Milhares de pessoas estão morrendo para não serem escravas de uma decisão covarde — respondi.

— E se esse for o fim de tudo? — ela perguntou com lágrimas escorrendo pela face.

— Seria desesperador acreditar que esse é o fim de tudo. Seria desesperador acreditar que tudo acaba aqui, desse jeito cruel e desumano. Eu tenho fé, eu tenho certeza de que esse não é o fim. Haverá uma nova chance para esse mundo e para todos aqueles que forem fiéis e suportarem a maldade que nos sobrevém.

— Seria mesmo muito cruel que tudo acabasse assim, seria cruel demais que esse fosse o fim das nossas vidas pra sempre.

— Esse não é o fim. Haverá um novo mundo e uma nova vida. E é por isso que eu não assino aquele papel, é por isso que jamais afirmarei que Hitler é o nosso salvador, é por isso que eu não contribuo em nada para essa guerra absurda.

— Mia, eu queria muito acreditar que esse Ser superior existe de verdade e que a vida não termina aqui.

— E você pode acreditar, minha amiga.

— A vida lá fora é tão bonita. A natureza, o amor, a beleza das coisas! Tudo parece mesmo ter sido planejado por algo ou alguém. Mas quando a maldade chega e a face obscura humana se revela, toda a beleza e maravilha da vida parece se tornar apenas uma ilusão. — Helene enxugava o rosto molhado pelas lágrimas.

— Eu entendo. O mesmo ser humano que é capaz de amar e construir também é capaz de destruir e odiar. E é contra essa natureza maldosa e degradante que nós temos que lutar todos os dias. Helene, não é fácil. Estou sofrendo tanto quanto você.

— Mas não foi Deus que nos fez assim, com essa natureza dual?

— Não! Ele nos fez perfeitos, mas a escolha dos nossos ancestrais pelo errado fez nosso estado decair, assim como faz todos os dias quando nos deparamos com o mal e optamos por segui-lo e abraçá-lo. Está tudo explicado nas escrituras sagradas.

— Então a dor é inevitável, pois seres imperfeitos cometem erros e na maioria das vezes o mal prevalece sobre o bem.

— Sim, a dor é inevitável.

— É como o mal que eu sinto agora. Se eu pudesse, eu mataria todos esses soldados que estão matando nosso povo, nossas crianças, nossos sonhos.

— Está vendo? Essa natureza maligna de querer matar, essa sede de vingança pode invadir os corações de todos nós, o meu, o seu, e não somente os deles.

— Sim, invade a alma.

— Mas temos que ser fortes pra não desejar fazer o mesmo que eles estão fazendo conosco. Não é fácil, eu sofro. Vi meus familiares e amigos morrerem. Meu coração também está destruído. No entanto, eu ainda acredito e tenho fé em Jeová. Algo aqui dentro do meu coração me dá essa certeza.

— E o que eu faço pra ter certeza?

— Converse com Ele, a certeza virá em seu coração. É um sentimento muito forte, uma esperança maior que tudo, impossível de ser negada.

Helene me olhou por uns instantes. Ficou pensativa.

— Eu vou orar, Mia. Eu preciso de uma resposta. Obrigada pelas palavras, amiga.

Helene e eu nos abraçamos.

Quando sofremos por algo o tempo parece passar devagar. Essa era a minha situação. Aos poucos comecei a sentir o amargo da solidão, saudade da minha mãe, dos meus irmãos e do Vagner. Eu imaginava como seria estar feliz ao lado deles.

Naquela noite tive uma surpresa dentro do campo. Minha mãe e minha irmã Judite foram levadas para lá. Ficamos no mesmo alojamento. Quando as vi entrarem pela porta, fiquei feliz. Ao menos, a partir daquele momento, enfrentaríamos juntas os momentos ruins.

Meu braço ainda estava inchado por conta de uma queda. Mamãe penteava os meus cabelos. Ela foi uma mulher incrível, também manteve sua fé de modo inabalável.

Foi naquele período que recebi a confirmação de que o Vagner também estava preso em Auschwitz. Eu precisava vê-lo, mas isso não seria fácil, talvez nem possível.

O que me manteve firme foi a lembrança dos momentos que vivi ao lado dele e da minha família antes de todas essas coisas tristes acontecerem. Me dei conta de que eu era uma pessoa privilegiada por ter tido em minha vida pessoas que me amaram.

— Estou feliz por estarmos juntas de novo. — Abracei minha mãe fortemente, como se não a visse há muitos anos.

— Sinto muito a falta dos seus irmãos. Mas tenho fé que Jeová os protegerá. — Minha mãe demonstrou sua dor não somente com palavras, mas também com lágrimas no olhar.

— Sim, mamãe. Ele vai nos proteger. Os meninos vão ficar bem, logo estaremos todos juntos novamente — Judite disse com um sorriso singelo.

Sabíamos do mandamento “Amarás teu Deus acima de todas as coisas e amarás teu próximo como a ti mesmo” e também “Não matarás”. Essas palavras não eram vãs. Tinham que ser seguidas, e a guerra é o contrário do amor. Desde os tempos de Cristo o povo de Deus é perseguido, e se Cristo viesse ao mundo na época atual também seria perseguido e ferido como foi em seu tempo.

Por mais de uma vez me chamaram na sala fria de interrogatório, mas em nenhum momento me mostrei disposta a assinar aquela declaração. Algumas prisioneiras me diziam:

— Assine logo aquele papel e seja livre desse inferno. O que há de errado em fazer isso pra salvar sua vida? É só uma assinatura! Deus não vai te condenar.

— Ele pode até não me condenar, mas a minha consciência vai me condenar. Eu jamais me perdoaria, eu jamais dormiria em paz sabendo que eu neguei minhas crenças diante de um governo corrupto, em troca de uma falsa liberdade.

— Se eu tivesse a oportunidade assinaria sem pensar duas vezes. Esse lugar é horrível, aqui morremos aos poucos — uma das prisioneiras exclamou, tremendo.

Assinar aquela declaração seria como ajoelhar diante da estátua do deus Baal. Além do mais, o que eu faria do lado de fora sem minha família? Eu preferia permanecer presa, sabendo que eu estava sendo fiel a Jeová e aos meus familiares. Minha consciência estava tranquila.

Uma das prisioneiras, que era uma mãe desesperada por ter visto seu filho Hans morrer, com lágrimas nos olhos, nos contou a história dele, que também havia sido preso por não aceitar servir ao governo nazista.

— Não podemos desistir da nossa fé, da nossa certeza! Uma certeza que nenhum cético, nem a maldade é capaz de matar. Meu filho Franz foi levado para o campo de concentração de Sachsenhausen. Ele foi perseguido devido às nossas crenças em Jeová. A Gestapo o convocou e pediu que ele assinasse o cartão de identificação militar que o alistaria no exército da Alemanha. Mas meu filho se recusou, e então foi preso e colocado em uma cela fria e solitária. O comandante do campo de concentração pediu que o chefe da polícia alemã matasse o Franz a tiros, na presença de outros prisioneiros, pra servir de exemplo.

— Está vendo como vocês são ingratos com o destino? Vocês têm a chance de escapar daqui, bastando pra isso assinar um papel. Mas se recusam, se recusam a servir o exército, se recusam a uma simples assinatura. Não têm o direito de reclamar. Se o seu filho tivesse se comportado como a lei manda, essa tragédia teria sido evitada. Não tenho pena da senhora nem de vocês todos que estão morrendo em vão por um falso Deus invisível! — uma das prisioneiras esbravejou, tremendo de angústia, demonstrando um ateísmo advindo da decepção.

— Não diga isso. Nós estamos certas. Não vamos nos render. Não podemos nos trair. Se tivermos que morrer, morreremos todas juntas — a senhora mãe do rapaz morto disse.

— E ganham o que em troca de toda essa valentia? Cabeças cortadas? Uma mansão no paraíso? — outra prisioneira questionou.

— Um mundo melhor, uma recompensa eterna por não nos curvarmos diante de uma mentira! — eu interferi na conversa, tentando defender a nossa fé um pouco mais.

— Sou ariana. Antes de conhecer esse lugar eu ainda acreditava em Deus. Estou aqui porque ajudei judeus a se esconderem. Acreditava no amor e no bem — Helene se manifestou diante das demais prisioneiras.

— Você fez o correto. Ajudou pessoas a escaparem da morte — Sabine afirmou.

— Mas agora estou aqui vendo uma série de horrores que jamais imaginei presenciar. E me diz, onde está Deus agora? Eu quero uma resposta, mas ainda não recebi. Orei como me dissera, mas nada aconteceu ainda — Helene desafiou descrente.

— Ele está nos abençoando com a oportunidade de exercermos a nossa fé — a Sabine disse, aproximando-se de Helene.

— Sabine, Mia, eu gostaria tanto de ter essa tal de fé. Mas penso que isso não adianta de nada.

— Helene, todos nós seres humanos precisamos de fé pra seguir em frente com nossas vidas. Mesmo você, que agora é ateia, precisa de fé.

— Eu? Preciso de fé?

— Sim. A fé não é uma simples crença, a fé é uma certeza de algo que você ainda não pode ver, mas que é algo verdadeiro, que se espera que aconteça. Tenha a certeza de que tudo acabará bem e que nós sobreviveremos para experimentar a alegria e a felicidade, ainda que não possamos ver o futuro — Sabine disse, tocando nos ombros de Helene.

— Eu gostaria de ter essa certeza, mas eu não consigo, não nesse lugar horrível — Helene respondeu.

— Todos os dias os seres humanos vivem pela fé, pois a verdade é que ninguém conhece nem sabe o que acontecerá amanhã. Somos obrigados a ter essa certeza dentro de nós. É mais que simplesmente acreditar em algo, mas começa com a simples esperança, com a crença. Tenha esperança, Helene. Eu também estou com meu coração partido. — Sabine demonstrou sua força ao tentar consolar a amiga.

— A fé em Jeová nos enche de força pra suportar cada dia difícil que vivemos aqui. Podemos chorar e continuar seguindo em frente — eu disse, compadecida com nossa situação.

Eu entendia que o sentimento de indignação dominava a maioria dos corações, era difícil compreender como o ser humano poderia ser tão mal daquela forma, torturando e matando pessoas inocentes, crianças que ainda teriam uma vida inteira pela frente.

Todo dia o barulho dos tiros e os gritos das vítimas faziam nossos corações acelerarem e nosso corpo tremer de angústia. Nos abraçávamos para sentir o consolo que a amizade proporcionava.