Prisão - Capítulo da obra "Por Amor e Fé, os Dias em Auschwitz"
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HISTÓRIA COM FICÇÃO
Jamila Mafra
10/20/20252 min read


Logo o Terceiro Reich percebeu que não seria capaz de nos intimidar. A morte do meu irmão mais velho me abalou profundamente. Foi difícil aceitar que uma família tão unida e tão feliz como a minha estava sendo separada e ferida de modo tão cruel. Mas minhas lágrimas não foram somente em razão do sofrimento dos meus entes queridos, minhas lágrimas eram o lamento por milhares de pessoas que viviam essa mesma angústia naqueles dias sombrios.
Pouco depois da morte do meu irmão, o Vagner também foi preso pelo mesmo motivo. Ele se recusou a servir o exército, mas não foi executado de imediato, permaneceu encarcerado até ser enviado para o campo de concentração de Auschwitz. Os nazistas queriam nos ver sofrer, não queriam mais que morrêssemos de imediato; eles queriam nos humilhar, queriam nos torturar, tanto física quanto psicologicamente.
O governo de Adolf não tinha escrúpulos. Por vergonha de anunciarem que havia alemães arianos que se recusaram a lutar defendendo o Terceiro Reich, mentiram nos relatórios dizendo que o Adam havia morrido em combate, lutando pela Alemanha Nazista.
A polícia permitiu que pegássemos o corpo do meu irmão para o enterrarmos. Eu, a Judite e meus pais fizemos o funeral. Ao ver o corpo do Adam, ali, dentro do caixão, com as marcas das balas de fuzil, fiquei extremamente chocada. Ele tinha sangue na roupa e na boca. Pensei até que pararia de respirar. Meus pais já estavam emocionalmente combalidos por terem sido separados dos meus irmãos menores, que permaneciam presos em um orfanato, onde foram vítimas de maus tratos.
Todos nós sentimos a dor profunda invadir nossas almas. Queríamos apenas ser felizes e poder servir ao nosso Deus livremente, de acordo com as nossas crenças e convicções.
O funeral do Adam foi acompanhado por policiais que nos vigiaram o tempo todo. Meu pai proferiu algumas palavras e, horas depois, apenas por ter proferido palavras de fé e feito uma oração, meu pai foi levado pela GESTAPO. Minha mãe também.
Após alguns dias meus pais foram libertados, mas não por muito tempo. Não tendo se dobrado ao regime, foram presos novamente, assim como a Judite.
Nossa família estava separada. Até então eu acreditava que escaparia, mas a realidade era outra bem diferente. Soldados nazistas ocuparam nossa casa e passaram a residir nela. Era o adeus ao nosso antigo lar.
Meus pais foram os primeiros da família a serem enviados para o campo de concentração em Auschwitz. Lá as Testemunhas de Jeová eram obrigadas a vestir o uniforme também conhecido como “o pijama listrado”, que possuía uma insígnia específica. Os judeus, por exemplo, faziam uso da estrela amarela, e nós, as Testemunhas de Jeová, um triângulo roxo.
No campo de concentração reconhecemos nossa irmandade através deste símbolo. Não era fácil entender porque tudo aquilo estava acontecendo conosco. Milhares de famílias feridas pela dor física e emocional. Perdemos nossos lares, perdemos pessoas amadas, perdemos alegrias momentâneas, mas não perdemos a nossa fé.
